Tornamo-nos motivo de piada e chacota por parte daqueles que zombam de nossa fé. E por quê? Porque tornamo-nos uma caricatura muito mal feita daquilo que Deus desejou que fôssemos. Dobramo-nos ante os deuses deste século. Não os deuses de pau, de pedra, de metal, mas os ídolos ideológicos, o consumismo, o mercado, o fetichismo, etc. A teologia da prosperidade é um triste exemplo disso. Os crentes são levados a acreditar que a felicidade é encontrada na aquisição de bens materiais.
O mundo nos adestrou, nos domesticou, e agora, servimos de espetáculo, não como gladiadores ou mesmo como mártires, mas como bôbos da corte. É verdade que as Escrituras afirmam que seríamos um espetáculo aos homens, aos anjos e ao mundo, mas não um espetáculo circense, um show de horrores (1 Coríntios 4:9).
À exemplo do que ocorreu a Sansão, nossos olhos foram vazados, fomos alijados da fonte de nossa força, e agora, o mundo se diverte às nossas custas. Tornamo-nos mais uma engrenagem do sistema corrompido que prevalece neste mundo. Como Sansão, deixamos de ser uma ameaça ao Status Quo para nos tornarmos trabalhadores braçais no moinho dos filisteus. Se antes inspirávamos admiração, agora provocamos gargalhadas. Como bem expressou o salmista: “Tu nos pões por opróbrio aos nossos vizinhos, por escárnio e zombaria daqueles que estão à roda de nós. Tu nos pões por provérbio entre os gentios, por movimento de cabeça entre os povos" (Sl.44:13-14).
Quem poderia levar a sério uma igreja patética como a dos nossos dias?
Basta olhar às manifestações bizarras atribuídas ao Espírito Santo para dar-se conta disso.
Urge resgatarmos a dimensão profética de nosso sacerdócio.
Uma igreja profética tem que estar engajada na transformação da sociedade. E para isso, ela não tem o direito de alienar-se. O profeta é aquele que constata e contesta. Sem constatação não há contestação. Como ele pode denunciar o que não sabe?
Como constataremos se nossos olhos foram vazados?
Como contestaremos se estamos trabalhando no moinho de Dagon?
A igreja contemporânea deu as costas ao mundo. Seus olhos estão vazados, e por isso, está impossibilitada de enxergar à realidade com olhos críticos.
Além da dimensão profética, urge também resgatarmos a dimensão poética da mensagem cristã.
Se nos ativermos ao profetismo, poderemos nos tornar pessoas insuportáveis. Não basta denunciar o erro, temos que anunciar o que é certo. E de que maneira devemos fazê-lo?
Muitos pregadores acham que o caminho é apologético. Porém, poucos frutos advêm da apologética. Um coração incrédulo não se dispõe a reconsiderar seus posicionamentos. Em bom português, ninguém dá o braço a torcer. Se não logramos êxito pelo caminho da razão, que tal buscarmos o caminho do coração? Em vez de apologética, que tal a via poética?
A Bíblia é um livro poético por excelência. Seu primeiro capítulo é uma narrativa poética de como tudo começou, cujo objetivo é revelar ao coração humano o amor e o cuidado de Deus pela criação. É perda de tempo buscar exatidão científica, ou simplesmente tentar conciliar o texto bíblico com o rigor do método científico.
Aliás, nas Escrituras, os livros poéticos estão dispostos antes dos proféticos. Os Salmos que formam o maior livro da Bíblia é pura poesia.
O que são as parábolas senão poesia?
Já li em algum lugar que os manuscritos mais antigos dos Evangelhos trazem as palavras de Jesus ditas em versos rimados. Não duvido disso. Jesus é o Poeta dos poetas.
A via profética aponta para a ética, enquanto que a via poética para a estética. O profeta fala do que é bom, enquanto o poeta mostra o que é belo.
É o equilíbrio entre a dimensão profética e a dimensão poética que vai impedir que a igreja caia no fosso do patetismo.
Desta maneira, o mundo olhará para nós com admiração, tanto pelo bem que pregamos, quanto pela beleza com que nos expressamos.
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