quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Arquitetos do Amanhã

Oscar Niemeyer, arquiteto brasileiro que em 2007 foi eleito o 9º gênio mundial vivo em uma lista compilada pela empresa Syntetics (Lista dos 100 maiores gênios vivos). Todo brasileiro deveria se orgulhar de ser conterrâneo e contemporâneo deste grande gênio da arquitetura mundial. Além de ser responsável por obras memoráveis como Brasília, ele compôs a equipe responsável pelo projeto da Sede da ONU em Nova York. Mesmo aos cem anos, Niemeyer trabalha todos os dias em seu escritório em Copacabana. Desapegado de dinheiro, trabalha por amor à profissão e tudo que ganha gasta, com a família, com os amigos ou com qualquer outra pessoa que lhe convier. Não acumulou fortuna e doou diversos projetos. Diz-se que a metade do que ele fez ele não cobrou. Da metade que ele cobra ele cobra a metade.

O que mais causa admiração em Oscar Niemeyer é que sua obra tem um tom futurístico, dando a impressão de que ele tenha vindo do futuro. Suas obras continuam sendo consideradas arrojadas, pertencentes a um filme de ficção científica.

O poeta e crítico de artes Ferreira Gullar, declarou acerca dele: "Se é certo - como acredito - que nós, homens, inventamos a vida, o mundo imaginário em que habitamos, Oscar Niemeyer é um dos que mais contribuíram para isso, inventando uma arquitetura que parece nascida do sonho e, com isso, nos ajuda a viver"

Uma das grandes inovações arquitetônicas dele foi o uso do cimento armado para elaboração de curvas. Ele se justifica, dizendo: "Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein."

Sem dúvida, sua obra ficará para a posteridade. O antropólogo Darcy Ribeiro prognostica: “A gente imagina que daqui a 300 anos ainda vão falar de nós, mas é ilusão. Vão lembrar só do Oscar. Sempre haverá alguém estudando a obra dele.”

Estou tomando Oscar Niemeyer como exemplo para introduzir um insight que tem ocupado minha mente ultimamente. Está baseado em uma profecia bíblica: "E depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões” (Joel 2:28).

Para alguns, esta profecia ainda vai se cumprir. Entretanto, no dia de Pentecoste, Pedro deixa claro que o fenômeno ocorrido no cenáculo em Jerusalém era o seu cumprimento. O Espírito Santo já foi derramado. E o maior dos sinais provocado por Sua efusão não são as línguas (glossolalia). De acordo com esta profecia, os velhos teriam sonhos e os jovens teriam visões.

Em outras palavras, o derramamento do Espírito transformaria os velhos nos arquitetos do amanhã. Sonhar, neste sentido, nada mais é do que projetar-se para o futuro, enxergar possibilidades, diagnosticar potenciais latentes.

Para a sociedade impregnada de preconceito, o velho pra nada serve. Seu discurso soa ultrapassado, anacrônico, cheirando a naftalina. Ninguém tem paciência de ouvi-lo.

Porém, na perspectiva do Espírito, o velho tem muito a contribuir para o futuro. Talvez não lhe reste força física para trabalhar como dantes, todavia lhe restam forças para sonhar. Sua experiência o habilita como um consultor para as novas gerações.

Emociono-me quando me lembro do meu velho pai, pouco antes de partir, me dizendo: - Meu filho, o problema é que minha mente alcança as estrelas, mas meu corpo se recusa a obedecê-la.

Meu pai sabia que chegara a hora de ceder lugar aos mais jovens, porém sua mente se negava a envelhecer. No dizer de Paulo, o apóstolo, seu homem exterior se desgastara com o tempo, mas seu homem interior se renovava dia após dia.

Davi, o grande monarca de Israel, já tinha em mãos a planta e a maquete para o Templo de Jerusalém, uma das maravilhas do mundo antigo. Bastava dar o start, e o templo seria concluído antes de sua partida. Porém, Deus lhe enviou o profeta Natã para informar-lhe que seu papel foi desenhar, projetar, idealizar, sonhar, mas a seu filho Salomão caberia a construção daquela obra monumental (Leia I Crônicas 28).

O problema é que às vezes os velhos não sabem a hora de sair de cena, de ceder lugar aos que estão chegando. Não se contentam apenas em projetar, querem também os créditos pela a execução da obra. Temos que aprender com Salomão, que pediu ao Senhor que lhe desse espírito de sabedoria para que soubesse como entrar e como sair. Ele mesmo constatou que “uma geração vai, e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre” (Ecl.1:4).

Há que se respeitar o momento de transição, de passagem de bastão entre a geração que sai, e a geração que vem. Uma espécie de “gabinete de transição”, como aquele que o novo presidente dos Estados Unidos instalou em Washington. Deve ser um momento de transição, não de crise ou ruptura.

A geração que vai não precisa sair totalmente de cena. Ela pode continuar trabalhando atrás dos bastidores, desenhando, esboçando o futuro.

E quanto à geração que vem?

Se os velhos sonharem, os jovens terão visão. O que era apenas um sonho, tornar-se-á realidade sob a batuta da nova geração.

Mas se os velhos se entregarem ao ostracismo, deixarem de sonhar, os jovens perderão a esperança e deixarão de produzir. Jovens visionários são resultado de uma geração sonhadora que os antecedeu.

Há que se acrescentar que os jovens precisam aprender a dar os devidos créditos aos que os antecederam. Eles não têm que reinventar a roda, só pra ficar com todos os créditos. Basta-lhes o privilégio de tornar real o que foi sonhado e planejado antes deles.

E quando estiverem velhos, serão igualmente honrados por aqueles que os sucederem.

Quando lhes faltar forças pra continuar no front de batalha, lhes terá chegado a hora de serem promovidos a sonhadores, arquitetos para as gerações que lhes sucederão.

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