Temos dito que o destino da igreja é tornar-se protagonista da História. Não podemos continuar na retaguarda, mas ocupar o lugar de vanguarda. E para isso, urge resgatarmos a credibilidade da mensagem cristã, alvo de tantas chacotas.
O movimento da igreja emergente buscou aproximar o cristianismo das questões que inquietam a sociedade pós-moderna. Anos de atraso tiveram que ser superados, para que se abrissem canais de diálogo entre a igreja e a sociedade. Passamos por um processo de contextualização.
Éramos como um vagão descarrilado. Voltamos ao comboio. Porém, nossa vocação não é de sermos apenas mais um vagão do trem, e sim a locomotiva da História. Pode até parecer presunção, mas apenas revela a vontade de Deus revelada nas Escrituras. Lá encontramos que as nações deveriam andar à nossa luz.
Para isso, temos que deixar nossa postura reativa ( pra não dizer reacionária ), e adotar uma postura proativa.
O papel profético da igreja não se limita a denunciar os erros de nossa sociedade, mas também de apontar um caminho, anunciar um novo tempo.
Após haver derrotado os profetas de Baal, o profeta Elias dirigiu-se ao rei Acabe, e anunciou: “Sobe, come e bebe, pois há ruído de abundante chuva” (1 Reis 18:41).
Israel vivia uma das piores secas da sua história. Desde que Elias havia profetizado, fazia três anos que não chovia.
Com a mesma autoridade com que fechou as comportas do céu, Elias profetizou a sua reabertura.
Acabe era a maior autoridade civil em Israel. Porém, a autoridade de Deus estava sobre os ombros do excêntrico profeta.
Ao afirmar que ouvia ruído de abundante chuva, Elias não estava sendo sensacionalista (como alguns pregadores da atualidade). Deus lhe permitira vislumbrar o que estava pouco à frente. O futuro se descortinava ante seus olhos.
Porém, não bastava fazer prognósticos. O futuro precisa ser engendrado, gerado através da oração.
Enquanto Acabe saiu a comer e a beber, “Elias subiu ao cume do Carmelo e, inclinando-se por terra, meteu o rosto entre os joelhos” (v.42). O profeta entrara em “trabalho de parto”. A palavra proferida era o sêmen, que fecundou a alma de Elias.
Da mesma forma, a igreja de Cristo deve engravidar-se do futuro. Paulo diz que o Espírito produz em nós gemidos característicos de uma gestante prestes a dar a luz.
A oração, sem dúvida, é parte de nosso trabalho na construção do Reino de Deus. Eu disse “parte”, não o trabalho completo.
Temos que orar, denunciar o erro, anunciar o caminho a seguir e trabalhar pela execução dos propósitos divinos.
O texto prossegue:
“Disse ao seu moço: Sobre, e olha para a banda do mar. E ele subiu, olhou e disse: Não há nada. Então disse Elias: Volta lá sete vezes. À sétima vez, disse: Levanta-se do mar uma nuvem, do tamanho da mão de um homem. Então disse Elias: Sobe, e dize a Acabe: Aparelha o teu carro, e desce, para que a chuva não te apanhe” (vv.43-44).
Embora estivesse compenetrado, Elias não perdeu a visão da realidade. Ele orava, e buscava por sinais que indicassem que ele havia sido respondido. Era como a mulher grávida em trabalho de parto, que com o rompimento da bolsa, espera pelo coroamento da criança.
O problema da igreja é que ela ora, mas não acredita que será atendida. Ela prefere buscar sinais que indiquem o contrário daquilo pelo que ela ora. Em vez de buscar sinais que evidenciem a chegada do Reino, ela busca por sinais que indiquem que é o diabo que está no comando do mundo.
O assistente do profeta teve que conferir sete vezes, até que encontrou uma minúscula nuvem. Aquele era o sinal que Elias esperava. Era o coroamento da criança. Chegara a hora do parto.
“Levanta-se do mar uma nuvem...”. Na simbologia bíblica, “mar” representa os povos, as nações. Repare: a oração subia ao céu, mas a nuvem se levantou do mar.
O moço de Elias tinha que olhar na direção do horizonte, e não para o céu. Assim deve proceder uma igreja voltada para o futuro. “Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia, assim fará o Senhor Deus fará brotar a retidão e o louvor perante todas as nações” (Is. 61:11). E mais: “As nações caminharão à tua luz, e os reis ao resplendor que te nasceu. Levanta em redor os teus olhos, e vê (...) a abundância do mar se tornará a ti, e as riquezas das nações a ti verão” (Is. 60:3-4a,5b).
A igreja cristã deixou de “olhar ao redor”. Perdemos o contacto com a realidade. E por isso, não percebemos que as coisas já começam a mudar. Ainda que esta mudança pareça tímida, ínfima como uma nuvem do tamanho da mão de um homem.
Nós gostaríamos que fosse uma nuvem do tamanho da mão de Deus. Preferiríamos o espetáculo de uma mudança drástica e imediata. Mas Deus escolheu o processo, a mudança gradual.
Outra coisa que não pode passar despercebida: Elias se preocupou com o bem-estar de Acabe. Por isso, pediu que seu moço saísse ao seu encontro, avisando que deveria apressar-se em aparelhar seu carro, pra que não ficasse atolado na lama provocada pela chuva.
Não podemos ser daqueles que acham que quanto pior, melhor. Nossa responsabilidade profética abarca toda a realidade, e não apenas o que consideramos ser espiritual.
“Em pouco tempo os céus se enegreceram de nuvens e vento, e caiu uma grande chuva. Acabe subiu ao carro e foi para Jezreel. O poder do Senhor veio sobre Elias e, cingindo ele os lombos, correu adiante de Acabe, até a entrada de Jezreel” (vv.45-46).
Uau! Elias, revestido do poder de Deus, conseguiu correr mais rápido que o carro aparelhado de Acabe!
Quando Acabe chegou em Jezreel, Elias já estava lá. Parecia mágica! Mas era o poder de Deus.
Todos queremos ser cheios deste poder. Porém, uma das razões pelas quais Deus nos disponibiliza Seu poder é possibilitar que avancemos e ultrapassemos a marcha do mundo.
Quando a ciência chegar, já estaremos lá. Quando os políticos encontrarem uma saída para a crise financeira mundial, perceberão que a igreja já há muito havia proposto a mesma saída.
Em vez de nos conformar aos moldes do mundo, estaremos conformando o mundo aos moldes do Reino.
A velocidade com que o mundo avança é extraordinária. Mas nós avançamos pelo poder de Deus. O mundo tem seus carros aparelhados, e assim como Elias, devemos incentivar seu avanço. Porém, nosso dever é chegar primeiro.
Somos o povo do futuro! Aqueles que vivem à frente do seu tempo.
Devemos responder não apenas aos anseios da pós-modernidade, mas também prever quais as questões com que teremos que lidar na próxima era. Somos o povo que traz respostas para os séculos vindouros (Ef.2:7).
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