sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Membros sim, órgãos não!

Um Igreja voltada para o Mundo

Uma das metáforas mais usadas nas Escrituras para referir-se à Igreja de Cristo é a do Corpo. Juntos formamos o Corpo Místico de Cristo.

Paulo escreve: “Assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, formam um só corpo, assim é Cristo também” (1 Co.12:12).

Ora, sabemos que o corpo humano não é formado só de membros (externos), mas também de órgãos (internos). Por que Paulo escolheu a figura dos ‘membros’ para exemplificar nossa posição no Corpo?

Ele fala de pés, orelhas, olhos, mãos, e não pulmões, intestinos, estômago. Haveria algum motivo para que ele preferisse os membros externos, em vez dos órgãos internos? Estou convencido que sim. Não foi por acaso que ele escolheu a figura dos membros para referir-se a nós.

É através dos nossos membros que nosso corpo se relaciona com o mundo externo. Nossos órgãos não têm qualquer ingerência no mundo exterior. Se fôssemos órgãos do Corpo de Cristo, então deveríamos estar voltados para nós mesmos. O papel dos órgãos é a manutenção do corpo. Mas o papel dos membros é interagir entre si, e com o mundo à sua volta.

O vocábulo grego “ekklesia” (igreja), significa “tirados pra fora”, ou “voltados pra fora”. A única razão da existência e permanência da igreja aqui é o próprio mundo. Portanto, temos que nos converter a ele. Converter-se ao mundo não é conformar-se aos seus valores, mas voltar-se para suas necessidades, a fim de supri-las através do amor.

Fomos enviados por Cristo ao Mundo. Nos trancafiarmos em nós mesmos nada mais é do que um motim, uma rebelião. Estamos sob as ordens do comandante de nossa nau. E suas ordens são: içar as velas e levantar a âncora. Não importa se os mares estão calmos ou revoltos. Nossa missão é cruzá-los.

Somos as mãos de Cristo para socorrer os miseráveis deste mundo. Somos Seus pés para percorrermos os terrenos íngremes e acidentados em busca das ovelhas perdidas. Somos Seus ouvidos para ouvirmos o lamento dos desesperados e consolá-los. Somos Seus olhos para constatarmos a realidade, e Sua boca para contestarmos. Não temos o direito de ficarmos indiferentes ao sofrimento humano, esteja onde ele estiver.

Definitivamente, não somos Suas entranhas. Por isso, não há lugar para corporativismo entre nós. Não vivemos em função de nossa subsistência. Vivemos em prol do outro, daquele que está do lado de fora.

Os membros estão dispostos em pares, e isso nos remete à orientação de Jesus para que fôssemos enviados ao Mundo “de dois em dois”. Alguém pode alegar que a boca não tem um par, mas convém lembrar que ela é formada de dois lábios, superior e inferior. Assim como o nariz é formado por duas narinas.

Uma mão precisa da outra. Mesmo sendo destro, o corpo precisa da mão canhota. Imagine quão dispendicioso seria digitar este texto com uma só mão! Um pé não caminha sozinho (Estamos falando de Cristo, não de saci-pererê, rs). Um olho só não seria capaz de enxergar o mundo em 3D. Um só ouvido só ouviria em mono, e por isso, deixaria de identificar sons mais sutis, que somente se ouve em estéreo.

E os membros não se relacionam apenas com seus pares, mas também com os demais. Quando cai um cisco no olho, é a mão que vem socorrê-lo. Um olho é capaz de ajudar o outro a enxergar melhor, mas não pode remover um cisco de seu par.

E todos os problemas enfrentados pelos membros se devem à interatividade com o mundo. Da mesma forma, os membros do Corpo de Cristo devem socorrer uns aos outros, quando esses forem vítimas em sua caminhada pelo mundo. Paulo diz que não somos apenas membros de Cristo, mas também “individualmente somos membros uns dos outros” (Rm.12:5).

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