sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Por um lugar ao Sol

Cada ser humano tem o direito de conquistar e ocupar seu próprio espaço no Mundo. Seja na vida profissional, familiar ou mesmo ministerial.

Porém, antes de ocupá-lo, temos que descobrir qual o espaço que nos está destinado.

Depois de liderar o povo de Israel na vitória contra os midianitas, Gideão recebeu a seguinte proposta:

“Domina sobre nós, assim tu, como teu filho e o filho de teu filho, porque nos livraste das mãos dos midianitas” (Juízes 8:22).

Em toda a história daquele povo, aquela foi a primeira vez que alguém se tornou unanimidade, sendo-lhe proposto criar sua própria dinastia real. Em bom português, Gideão estava com a faca e o queijo na mão. Sua popularidade havia alcançado 100%.


Aceitando aquele posto, ele garantia não apenas o seu futuro, mas o de toda a sua prole.

Entretanto, Gideão declinou: “Não dominarei sobre vós, nem tampouco meu filho dominará sobre vós; o Senhor sobre vós dominará” (v.23).

De fato, ainda não era chegada a hora de Israel tornar-se uma monarquia. Se Gideão aceitasse a oferta, estaria metendo as mãos pelos pés.

Mas ele achou que não poderia deixar passar em branco aquela oportunidade. Que tal, em vez de rei, tornar-se sacerdote?

Aproveitando a disposição do coração daquela gente, Gideão pediu que lhe fossem dados os brincos de ouro que haviam sido despojo dos midianitas. Não houve qualquer resistência. Afinal de contas, todos os israelitas se sentiam em dívida com ele.

“Fez Gideão desse ouro uma estola sacerdotal e a pôs na sua cidade, em Ofra. Todo o Israel se prostituiu ali após dela, a qual veio a ser tropeço a Gideão e a à sua casa” (v.27).

O que parecia uma grande oportunidade, tornou-se num grande laço.

Ora, Israel já tinha uma casta sacerdotal, instituída por Deus enquanto caminhavam pelo deserto do Sinai. Somente a tribo de Levi poderia prover sacerdotes. Gideão era da meia tribo de Manassés. Portanto, que direito ele tinha de se auto-intitular ‘sacerdote’?

Há muitos em nossos dias almejando ocupar um lugar para o qual não foram chamados. Esses se aproveitam da ingenuidade das pessoas, e se auto-intitulam ‘apóstolos’, ‘bispos’, ‘líderes’, sem jamais terem sido genuinamente chamados por Deus para o exercício de tais cargos.

Nenhuma realização nos habilita a ocupar um espaço que não nos foi destinado.

E não é porque declinamos de ser ‘reis’, que temos o direito de nos constituir ‘sacerdotes’.

Tal atitude presunçosa de Gideão custou-lhe muito caro, tanto para ele, quanto para os seus filhos.

O texto sagrado afirma que ele teve setenta filhos, além de Abimeleque, gerado de uma concubina. Foi justamente esse que almejou ocupar o lugar do qual seu pai abrira mão.
Com a morte de Gideão, também chamado Jerubaal, seus setenta filhos ocuparam o posto de juízes em Israel. Mas Abimeleque queria mais que isso. Ele queria ser rei.

Numa manobra política, ele reuniu toda a família por parte de mãe, e perguntou-lhes: “Que é melhor para vós: que setenta homens, todos os filhos de Jerubaal, dominem sobre vós, ou que um só homem domine sobre vós? Lembrai-vos também de que sou vosso osso e vossa carne” (Juízes 9:2). Fazia sentido. Pareceu bem aos olhos daquela gente, que Abimeleque se tornasse o primeiro rei em Israel.

Abimeleque, agora, tinha admiradores. Porém, ele queria mais. Ele precisava de seguidores. Admiradores apóiam, mas somente seguidores podem respaldar.

Os que o apoiavam resolveram financiar sua campanha, ofertando-lhe grande quantidade em prata. Com esse dinheiro, ele “alugou uns homens ociosos e levianos, que o seguiram” (v. 4).

Sempre haverá gente “ociosa e leviana” disposta a se alugar. Seja por cargos, ou por conveniência, ou por dinheiro. Quem não tem princípios e valores, tem sempre um preço. Quem se dispuser a pagá-lo, terá sua lealdade.

Com seu séquito particular, Abimeleque “foi à casa de seu pai, a Ofra, e matou a seus irmãos, os filos de Jerubaal, setenta homens, sobre uma pedra. Mas Jotão, filho menor de Jerubaal, ficou, porque se tinha escondido” (v.5).

Assim age quem usurpa um espaço que não é seu. Quem estiver à sua frente, terá que ser destruído. Não importa quantos serão magoados, feridos, destroçados. O importante é tomar o lugar que eles ocupam.

Quem vive no espírito de Abimeleque não se importa de destruir famílias, reputação alheia, e até ministérios. Isso não passaria de efeitos colaterais. Para eles, os fins sempre justificam os meios.

Eles não se importam com vidas, mas com o espaço que almejam ocupar.

Abimeleque conseguiu o que queria. Embora não seja reconhecido pela história como tal, ele se auto-intitulou o primeiro rei de Israel.

Jotão, o caçula de Gideão que havia escapado do fratricídio, resolveu tomar uma posição e enfrentar a ambição do seu meio-irmão.

Em vez de ataques pessoais diretos, Jotão se pôs no cume do monte Gerizim, levantou a voz e propôs uma parábola:

“Foram certa vez as árvores a ungir para si um rei. Disseram à oliveira: Reina sobre nós. Mas a oliveira lhes respondeu: Deixaria eu o meu azeite, que Deus e os homens em mim prezam, e iria dominar sobre as árvores? Então disseram as árvores à figueira: Vem tu, e reina sobre nós. Mas a figueira lhes respondeu: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, e iria dominar sobre as árvores? Então disseram as árvores à videira: Vem tu, e reina sobre nós. Mas a videira lhes respondeu: Deixaria eu o meu vinho, que alegra a Deus e os homens, e iria dominar sobre as árvores? Então todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós. Respondeu o espinheiro às árvores: Se, na verdade, me ungis rei sobre vós, vinde refugiar-vos debaixo da minha sombra; mas, se não, saia fogo do espinheiro, e consuma os cedros do Líbano” (vv.14-15).

Quem disse que a voz do povo é a voz de Deus? Quem disse que o povo sabe escolher? Entre Jesus e Barrabás, escolheram o Barrabás.

Por isso a Bíblia nos adverte a ter cuidado em seguir a maioria. E mais: cuidado com as unanimidades. Como disse Nelson Rodrigues: “toda unanimidade é burra”.

O problema com Israel é que o espinheiro só encontrou espaço, porque as demais árvores se negaram a ocupá-lo.

A unanimidade alcançada por Abimeleque se deveu à falta de alternativa do povo.

A Oliveira estava muito ocupada produzindo seu azeite, tão prezado por Deus e pelos homens. Azeite aponta para unção, e unção representa capacitação. Há pessoas que passam a vida inteira buscando se capacitar para algo, mas quando a oportunidade chega, elas declinam. Sempre se acham incapazes. Se esquecem de que Deus não escolhe os capazes, mas capacita os escolhidos.

A figueira estava ocupadíssima na produção de seus bons frutos, de modo que não poderia ocupar aquele espaço. Assim são as pessoas perfeccionistas ao extremo, que de tanto se preocuparem com a qualidade do que produzem, acabam assumindo uma existência infrutífera do ponto de vista coletivo. Produzem para si, mas não produzem para Deus e para o seu semelhante. Geralmente, elas se preocupam muito com a opinião e a avaliação dos outros. Será que vão gostar do meu fruto? Será que vão aprovar o meu trabalho? Por isso, recusam o trono, porque sabem que dali serão avaliados constantemente. Preferem manter o conforto do anonimato.

Já a videira estava mais preocupada com o produto final da sua produção: o vinho. E para se chegar a ele, havia um longo caminho a se percorrer. Ela não podia se distrair com outras coisas. O poder lhe tiraria o foco, e poderia alterar o sabor de seu vinho.

É claro que precisamos de capacitação, de qualidade e de foco. Porém, não podemos usar isso como desculpa para a nossa omissão.

Se as demais árvores não tomam posição, o espinheiro agradece.

A oliveira produz azeite, a figueira produz frutos, e a videira produz vinho, e o espinheiro, o que produz?

Jotão intentava chamar os filhos de Israel à reflexão acerca de sua escolha. O que esperar de alguém capaz de destruir os próprios irmãos para assumir o poder? Em outras palavras: vejam os ‘frutos’ que Abimeleque produziu. Em vez de frutos, só produziu espinhos.

Se ele não foi leal aos seus irmãos, será leal ao seu povo?

Pena que nosso povo tem a memória tão curta. E por conta disso, sempre elege os mesmos políticos.

O que esperar, por exemplo, de um prefeito que destruiu barracos enquanto era sub-prefeito de um bairro de sua cidade? Choque de ordem! Não se pode esperar outra coisa do espinheiro, se não espinhos!

É a curta memória do nosso povo que tem elegido espinheiros para ocupar os principais cargos políticos de nossa nação.

Se não quisermos viver sob os espinhos que eles produzem, temos que assumir uma posição e ocupar nosso próprio espaço.

Se a esposa ocupar seu espaço no lar e no casamento, não sobrará espaço para uma amante.

Se o pai ocupar seu espaço na vida do filho, não haverá espaço para ser ocupado pelo traficante.

Bastou que Abimeleque reinasse por três anos, para que se levantasse entre os seus seguidores, alguém que conspirasse contra ele.

Embora tenha obtido vitória sobre os que conspiravam para derrubá-lo, Abimeleque teve um fim vergonhoso, digno de um irmão desleal.

Foi uma pequena pedra, atirada do alto de uma torre por uma mulher, que lhe quebrou o crânio. Com medo de que sua reputação fosse destruída, pediu a um dos seus soldados: “Desembainha a tua espada e mata-me, para que não se diga de mim: Uma mulher o matou (...) Assim Deus fez tornar sobre Abimeleque o mal que tinha feito a seu pai, matando a seus setenta irmãos” (vv.54, 56). Seus irmãos foram mortes sobre uma pedra, enquanto Abimeleque foi mortalmente ferido sob uma pedra. É aquela história: quem com ferro fere...

Ocupe seu lugar. Não deixe que o espinheiro o ocupe. Mas não usurpe o lugar de ninguém.

Um comentário:

  1. inpressionante....realmente uma história digna de ser estudada,e bem analizada,concluindo digo que Jesus tem aberto os Olhos dO pOVO E eLEITO NOVOS ministros e novas Obras Obras estas verdadeiramente fies aos seus propósitos.
    Cada dia que passa me Enquadro Mais neste ministério embora eu ainda não o siga tenho a fé q Deus capacita os Escolhidos.
    Graça e paz de Jesus.

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